segunda-feira, 7 de setembro de 2009

'Fé demais não cheira bem'


'Fé demais não cheira bem'
Publicado em 21/08/2009 às 12h59m
Artigo do leitor Lucio Mauro Filho
Em outubro de 2002, nós artistas fomos convidados a participar de um encontro com o então candidato à Presidência DA República Luis Inácio Lula DA Silva na Casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro. Fui ao encontro como eleitor de Lula desde o meu primeiro voto e também como cidadão brasileiro ansioso por mudanças na forma de se fazer política no país. O clima era de festa, com muitos colegas confraternizando e um sentimento que desta vez a vitória viria.

Na porta principal DA Casa, uma tropa de políticos do PT e DA coligação partidária recebia a todos com bottons, apertos de mãos firmes e palavras de ordem. E no meio de quadros tão interessantes DA nossa política, este que vos fala foi recebido justamente por quem? Pelo Bispo Rodrigues (hoje ex-político e ex-religioso).

As pulgas correram todas para trás DA minha orelha. Ser recebido no encontro do Lula com OS artistas pelo bispo DA Igreja Universal filiado ao extinto PL não era bem o que eu esperava daquela ocasião. Era um prenúncio claro do que viria a acontecer depois.

Veio o apoio do PTB de Roberto Jefferson, que tinha horror a Lula, mas que mesmo assim acabaria recomendando o voto no candidato do PT, como forma de desagravo ao então presidente do seu partido, José Carlos Martinez, que por sua vez tinha ódio por José Serra, a quem considerava culpado pela Volta aos jornais DA história do empréstimo que ele teria recebido de Paulo César Farias, no início dos anos 90. Com essa turma, a candidatura de Lula chegava à reta final.

A vitória veio e, com ela, uma onda de otimismo e de esperança em dias melhores, de mais inclusão, mais justiça social e menos corrupção e descaso. Éramos OS pentacampeões mundiais no futebol e com Lula presidente ninguém segurava essa Nação. Pra frente Brasil!

Depois de dois anos de namoro, OS ventos começaram a mudar com o surgimento de uma gravação onde Waldomiro Diniz, subchefe de assuntos parlamentares DA Presidência DA República, extorquia um bicheiro para arrecadar fundos para as campanhas eleitorais do PT e do PSB no Rio. O fato foi tratado como um deslize isolado de um funcionário de segundo escalão que de forma alguma representava a ideologia do Partido dos Trabalhadores. Waldomiro foi afastado do governo.

Em meados do ano seguinte surgiu uma nova gravação, onde o então funcionário dos correios Maurício Marinho aparecia recebendo dinheiro de empresários. Ele dizia ter autorização do deputado Roberto Jefferson do PTB. Em defesa de seu aliado, o presidente Lula afirmou na época que confiava tanto em Jefferson que lhe daria um "cheque em branco".

As investigações foram aprofundadas e na base do "caio, mas levo todo mundo junto", o deputado afirmou em entrevista à "Folha de São Paulo" que existia uma prática de mesada paga aos deputados para votarem a favor de projetos de interesse do governo. Lula deu o cheque em branco e recebeu de Volta a crise que derrubaria, um por um, OS homens fortes do seu partido. E de uma hora para outra, José Dirceu, José Genoíno, Antônio Palocci, João Paulo Cunha e outros políticos que tanto admirávamos, chafurdaram na lama DA política suja, com histórias de abuso de poder, tráfico de influência e até coisas inimagináveis, como dólares transportados em cuecas e saques em boca de caixa totalmente suspeitos.

Acabou a inocência. O PT começou a desprezar quadros importantes do partido que não concordavam com as posições incoerentes com a luta pela ética e a moralização do país. Pior do que isso, acabou por expulsar alguns deles, como a senadora Heloísa Helena e OS deputados Babá e Luciana Genro. Outros saíram por também não concordarem com as práticas até então impensáveis para um partido que se julgava detentor DA bandeira DA honestidade. E assim partiram Cristovam Buarque e Fernando Gabeira.

Apesar de toda uma nova geração de políticos interessados em refundar o partido e aprender com OS erros, como José Eduardo Cardozo, Delcídio Amaral e Ideli Salvati, o PT preferiu manter a estratégia do aparelhamento, do fisiologismo e do poder a todo custo, elegendo o pau mandado Ricardo Berzoini novo presidente do partido. Ele representava o Campo Majoritário, grupo que sempre esteve na presidência do PT desde sua fundação.

Depois que nada foi provado na CPI do Mensalão, o Partido dos Trabalhadores percebeu que a bandeira DA ética já não importava mesmo e começou novamente uma fase "rolo compressor" de conchavos e blindagens com o que há de pior na política brasileira. Veio o segundo mandato e com ele o fato. O presidente Lula cada vez mais nas mãos do PMDB, o partido que definitivamente não está nem aí com ideologias, ética ou qualquer coisa parecida.

Depois DA derrocada dos grandes caciques do PT, restou Dilma Roussef, a super ministra, como única opção de candidatura para a sucessão do presidente Lula. Mas Dilma não tem carisma nenhum. É uma figura técnica, fria. Precisa desesperadamente do presidente preparando palanques com dois anos de antecedência, emprestando toda a sua popularidade, como uma espécie de "ghost charisma". Precisa também do PMDB com seus acordos e chantagens como co-patrocinador político da candidatura.

Para isso, foi preciso o governo se meter em mais outra crise e comprovar que é muito mais PMDB que PT. Depois de Jefferson, Bispo Rodrigues, Severino Cavalcanti, os eleitores do Lula estão tendo que agüentar o pior. Ver o presidente de mãos dadas com Fernando Collor, Renan Calheiros e José Sarney. E ver um Conselho de Ética formado em sua maioria por suplentes como os senadores Wellington Salgado, Gim Argello e até o presidente do conselho, Paulo Duque, que afirmou que "adora decidir sozinho".

No momento em que políticos como Aloizio Mercadante tentam juntar os cacos do PT, tomando atitudes coerentes com o que o partido sempre pregou, lá vem o executivo com sua emparedada já tradicional, desautorizando o líder de sua bancada, mais uma vez constrangido pela direção do PT. E as promessas as quais me referi lá atrás, Delcídio e Ideli, votaram a favor do arquivamento de tudo e da permanência do que aí está. Mais uma vez, o fim justifica os meios.

E assim, é a vez de Marina Silva abandonar o barco, cansada de guerra. A ex-ministra do Meio Ambiente que viu o presidente Lula entregar nas mãos do ministro extraordinário de assuntos estratégicos, Mangabeira Ünger, o Programa Amazônia Sustentável (PAS). Justo ela, uma cidadã da Amazônia. Foi a gota d'água. Desautorizada, Marina deixou o cargo. Agora, deixa o partido. E o Mangabeira Ünger? Voltou para Harvard para não perder o salário de professor (em dólar), deixando os assuntos estratégicos para o passado.

Esse é o atual panorama da política nacional. Deprimente. Políticos dizendo na cara de seus eleitores que realmente estão se lixando. Acabou o pudor. Com o presidente Lula corroborando tudo que é canalhice e uma oposição que é também responsável por tudo que aí está, pois governaram o país por todos esses anos e ajudaram a moldar todas as práticas que o governo do PT aperfeiçoou, talvez estejamos realmente precisando de uma terceira via.

Eu não sei se imaginei um cenário tão devastador quando constrangido evitei o aperto de mão do Bispo, lá na porta do Canecão. Mas um trocadilho não me sai da cabeça: "Fé demais não cheira bem".


Lucio Mauro Filho é ator e roteirista
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POR QUE NÃO SOU PETISTA
(MARCELO TAS)
Por não ser petista, sempre fui considerado "de direita" ou "tucano" pelos meus amigos do falecido Partido dos Trabalhadores.
Vejam, nunca fui "contra" o PT. Antes dessa fase arrogante mercadântica-genoínica, tinha respeito pelo partido e até cheguei a votar nos "cumpanheiro". A produtora de televisão que ajudei a fundar no início da década de 80, a Olhar Eletrônico, fez o primeiro programa de TV do PT. Do qual aliás, eu não participei.
Desde o início, sempre tive diferenças intransponíveis com o Partido dos Trabalhadores. Vou citar duas.
Primeira: nunca engoli o comportamento homossexual dos petistas. Explico: assim como os viados, os petistas olham para quem não é petista com desdém e falam: deixa pra lá, um dia você assume e vira um dos nossos.
Segunda: o nome do partido. Por que "dos Trabalhadores"? Nunca entendi. Qual a intenção? Quem é ou não é "trabalhador"? Se o PT defende os interesses "dos Trabalhadores", os demais partidos defendem o interesse de quem? Dos vagabundos?
E o pior, em sua maioria, os dirigentes e fundadores do PT nunca trabalharam. Pelo menos, quando eu os conheci, na década de 80, ninguém trabalhava. Como não eram eleitos para nada, o trabalho dos caras era ser "dirigentes do partido". Isso mesmo, basta conferir o currículum vitae deles.
Repare no choro do Zé Genoníno quando foi ejetado da presidência do partido. Depois de confessar seus pecadinhos, fez beicinho para a câmera e disse que no dia seguinte ia ter que descobrir quem era ele. Ia ter "que sobreviver" sem o partido. Isso é: procurar emprego. São palavras dele, não minhas.
Lula é outro que se perdeu por não pegar no batente por mais de 20, talvez 30 anos... Digam-me, qual foi a última vez, antes de virar presidente, que Luis Ignácio teve rotina de trabalhador? Só quando metalúrgico em São Bernardo. Num breve mandato de deputado, ele fugiu da raia. E voltou pro salarinho de dirigente de partido. Pra rotina mole de atirar pedra em vidraça.
Meus amigos petistas espumavam quando eu apontava esse pequeno detalhe no curriculum vitae do Lula. O herói-mor do Partido dos Trabalhadores não trabalhava!!!
Peço muita calma nessa hora. Sem nenhum revanchismo, analisem a enrascada em que nosso presidente se meteu e me respondam. Isso não é sintoma de quem estava há muito tempo sem malhar, acordar cedo e ir para o trabalho.. Ou mesmo sem formar equipes e administrar os rumos de um pequeno negócio, como uma padaria ou de um mísero botequim?
Para mim, os vastos anos de férias na oposição, movidos a cachaça e conversa mole são a causa da presente crise. E não o cuecão cheio de dólares ou o Marcos Valério. A preguiça histórica é o que justifica o surto psicótico em que vive nosso presidente e seu partido. É o que justifica essa ilusão em Paris...misturando champanhe com churrasco ao lado do presidente da França...outro que tá mais enrolado que espaguete.
Eu não torço pelo pior. Apesar de tudo, respeito e até apoio o esforço do Lula para passar isso tudo a limpo. Mesmo, de verdade.
Mas pelamordedeus, não me venham com essa história de que todo mundo é bandido, todo mundo rouba, todo mundo sonega, todo mundo tem caixa 2...

Vocês, do PT, foram escolhidos justamente porque um dia conseguiram convencer a maioria da população (eu sempre estive fora desse transe) de que vocês eram diferentes. Não me venham agora querer recomeçar o filme do início jogando todos na lama. Eu trabalho desde os 15 anos. Nunca carreguei dinheiro em mala. Nunca fui amigo dessa gente.
Pra terminar uma sugestão para tirar o PT da crise. Juntem todos os "dirigentes", "conselheiros", "tesoureiros", "intelectuais" e demais cargos de palpiteiros da realidade numa grande plenária. Juntos, todos, tomem um banho gelado, olhem-se no espelho, comprem o jornal, peguem os classificados e vão procurar um emprego para sentir a realidade brasileira.
Vai lhes fazer muito bem. E quem sabe depois de alguns anos pegando no batente, vocês possam finalmente, fundar de verdade um partido de trabalhadores.

Texto de Marcelo Tas em seu blog. Marcelo é jornalista, autor e diretor de TV. A ênfase de seu trabalho está na criação de novas linguagens nas várias mídias onde atua. Entre suas obras destacam-se os videos do repórter ficcional Ernesto Varela; participação na criação das séries "Rá-Tim-Bum", da TV Cultura e o "Programa Legal", na TV Globo. Recentemente, Tas realizou o "Beco das Palavras", um game interativo que ocupa uma das salas mais concorridas do novo Museu da Lingua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo. Atualmente é âncora do CQC, editado pela TV Band

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