domingo, 6 de junho de 2010

Clemenceau entre nós

 
Georges Clemenceau foi (1841-1929) foi um estadista, jornalista e médico francês. Autor de tiradas brilhantes e irreverentes, a ele se deve a queda de seis governos e a demissão de um presidente da república. Por essa razão ganhou o apelido “O tigre”. Mal sabia o quanto seus bordões se aplicam nessas plagas, e alhures.

Alguns exemplos:
"A França é um país extremamente fértil: plantam-se funcionários públicos e nascem impostos". – Só a França, é claro, desfrutava desse privilégio.

Alguns dos seus dizeres são recados diretos aos nossos políticos. Àqueles que "incham a máquina administrativa" por achar o Estado raquítico: "Os funcionários públicos (sempre na França, certo?) são os maridos ideais. Chegam em casa descansados e já leram o jornal". O IPEA, na pessoa do seu presidente, concorda.

Aos frequentadores das alturas dos muros de onde não se atrevem a descer, aqueles pássaros de bico avantajado:
"É preciso saber o que se quer, uma vez sabido, é preciso ter coragem de dizê-lo, uma vez dito, é preciso ter energia para fazê-lo”. Definir de uma vez por todas...

Ao afirmar que não está interessado na Presidência – nem na vice – o Governador de Minas endossou outro bordão: “A vida me ensinou que há duas coisas que podemos dispensar: a Presidência da república e a próstata”.

As campanhas eleitorais mereciam sarcasmos. (Estamos, nunca é demais lembrar, falando da França).
“Nunca se mente tanto quanto antes das eleições, durante a guerra e depois da caça”. Poderia ter dito “depois de uma pescaria” se estivesse na presença do Ministro da pesca.

Outra frase poderia ser a favorita do NOSSO PRESIDENTE, na hipótese de não conseguir fazer sua sucessora. “Em política, sucedemos a imbecis e somos substituídos por incapazes”. É uma faca de dois gumes, melhor não utilizar, ou se optar por empregá-la, que seja com extremo cuidado.

Como se previsse a situação em algumas democracias, paparicadas pela nossa diplomacia, ele dizia:
“Uma ditadura é o regime no qual não é preciso ficar a noite inteira pregado no rádio (sorry, era o que havia na época) para saber o resultado das eleições”.

Muito antes de se falar em “herança maldita”, Clemenceau dizia: “Todos podem cometer erros e imputá-los a outros: isso é fazer política”. É preciso reconhecer que o passar dos anos não foi em vão. O termo “herança maldita”, especialmente quando utilizado por herdeiros desastrados, pode ser equiparado a uma indulgência papal, uma absolvição antecipada para falhas eventuais. Como aqui não houve falha alguma nos últimos anos, o termo entrou em desuso – por enquanto.

Para os políticos sem moral – da França, porque aqui não os há – : “A honra é como a virgindade, só serve uma vez”. Possivelmente, sua intenção era dizer: “Só se perde uma vez”, se bem que, basta renunciar ao mandato e voltar triunfalmente reeleito, isso que é democracia! O conceito de democracia de Clemenceau era bem polêmico:”Democracia é o poder, dado aos piolhos, de comer leões”.

Com certeza, algumas tiradas precisam de um aggiornamento. Por exemplo, a famosíssima: “A guerra é um assunto grave demais para ser confiado a militares“ ecoou, de maneira distorcida, ao sul do Oiapoque e virou: “A compra de aviões Rafale é um assunto sério demais para ser confiado etc. etc...”. Nosso presidente é um profundo estudioso de Clemenceau, ou como diria Sarkô: "les grands ésprits se rencontrent". Algo como: as mentes brilhantes convergem.


http://www.if.org.br/analise.php


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