09/10/11 às 20:23 | Ivan Santos
(foto: Valquir Aureliano)
Para Rodrigues, a falta de alternância no poder fez com que o grupo do atual prefeito Luciano Ducci (PSB) perdesse a capacidade de antecipar-se aos problemas provocados pelo crescimento da cidade. Os sintomas do esgotamento desse modelo, afirma, estão cada vez mais evidentes em situações como o trânsito cada vez mais congestionado, a queda de qualidade do transporte público, na demora no atendimento especializado em saúde e no crescimento dos índices de criminalidade.
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Estado, o deputado do PV fala sobre os desafios a serem enfrentados por Curitiba, e defende a candidatura própria do partido à prefeitura como forma de apresentação de uma alternativa de cidade sustentável.
Jornal do Estado — O senhor disse recentemente que a administração municipal de Curitiba está “cansada”. Porque?
Rasca Rodrigues — Isso está claro na perda de espaço na vanguarda da política pública. Pesquisa recente apontou Curitiba como a sexta capital em ações ambientais. Dentro do que o PV prega em suas diretrizes há a preocupação de que nossa cidade tenha um retrocesso, perca o protagonismo das políticas públicas ambientais do País. Com exceção de programas como o de erradicação de espécies exóticas e adoção de calçadas impermeáveis, não vemos isso mais. Os parques estão poluídos. Os rios não melhoraram. O Barigui - que é um símbolo da cidade - está com uma profundidade em que os pássaros não precisam mais voar, atravessam a pé.
JE — O título de “capital ecológica” então não expressa mais a realidade?
Rasca — A prática não condiz com o discurso. O curitibano ainda tem uma consciência ambiental forte. Mas a administração municipal perdeu a capacidade de apontar caminhos.
JE — Fala-se muito no esgotamento de um modelo de planejamento urbano? Concorda?
Rasca — Concordo. Não somos mais protagonistas. Nossas canaletas têm que deixar de ser pista de teste da Volvo. Precisamos ampliar os modais. Há uma insistência em colocar esse modelo como o melhor do Brasil e do mundo. E não é. Precisamos ter alternativas para tirar os carros das ruas. Em Porto Alegre tem um ônibus com ar-condicionado, jornal. Custa um pouco mais, mas você vai e volta do trabalho com conforto. Hoje, em muitos pontos de Curitiba, as pessoas não conseguem sequer entrar nos ônibus porque eles estão superlotados. E aí vem a redução do número de usuários do transporte coletivo e o aumento de carros nas ruas. Por causa do desconforto e do risco de não assiduidade.
JE — Acha que houve uma acomodação do grupo que comanda a cidade há décadas?
Rasca — Eles perseguem um modelo ultrapassado. O melhor transporte coletivo é o que tem multiplicidade, com metrô, transporte sobre trilho, transporte elétrico. Nossos pontos de ônibus são os únicos do mundo que não têm banco para sentar. Perguntei isso para o (Cássio) Taniguchi e ele disse que era para mostrar que o transporte é eficiente e não dá tempo para sentar. Ou seja, é mais importante o marketing do que o conforto das pessoas. O planejamento hoje está submetido muito mais ao interesse de grandes grupos econômicos do que ao interesse público e ao futuro da cidade.
Indústria das multas
“Sistema feito só pensando em arrecadar”
09/10/11 às 20:25 | Ivan Santos
Rasca Rodrigues — Quanto menos ruas, menos carros. Quanto mais pista de rolamento, mais carros. Copenhagen começou a adotar o calçadão, que nós copiamos, em 1962. Hojem tem 340 quilômetros de ciclovias. Em Curitiba, o que estamos fazendo hoje é o contrário. Privilegiando o transporte individual em detrimento do transporte público. Houve um retrocesso. Quando se fechou a rua XV os comerciantes também se revoltaram. Depois viram que lucraram mais. O gestor público tem que ter coragem de olhar à frente, e enfrentar essas situações. O que vemos hoje é que as políticas públicas são feitas para atender ao calendário eleitoral, não ao interesse da cidade.
JE — Como vê as polêmicas envolvendo as multas de trânsito?
Rasca — Nossa cidade é refém dessa receita orçamentária. O sistema é feito pura e simplesmente para a arrecadar. Não vemos campanhas de educação no trânsito, não vemos blitzes educativas, policiais abordando no sentido de educar. Por isso estamos vendo uma piora na cultura do trânsito. Temos que morar em uma cidade que todos os dias seja um pouco melhor que no dia anterior. Caso contrário vai chegar um momento em que haverá uma paralisia geral.
JE — A atual gestão cortou verbas previstas para ciclovias.
Rasca — Dentro do conceito de cidade sustentável queremos mostrar que caminhar é a atividade mais importante da cidade. Com essa diretriz de olhar para a cidade segundo a escala humana. Tem que pensar de acordo com o tamanho das pernas. Isso em transporte, mas também em geração de empregos, indústria. Daí a proposta de criação de um distrito industrial metropolitanos. Curitiba não tem uma política de atração de indústria porque não tem mais espaço físico. Então a ideia é aproveitar o espaço que tem para serviços, tecnologia da Informação. Que obtenha um retorno. Grande parte dos empregos vai para lá (cidades da RMC). Um distrito industrial com a participação de cada cidade seja de acordo com o tamanho de seu investimento, com arrecadação compartilhada.
Não há como dissociar Ducci de Derosso
Rasca — Não está descartada aliança com nenhum partido que concorde com a posição do PV em relação à situação política atual. Todo partido que estiver alinhado ao (Luciano) Ducci está descartado, porque a nossa proposta é de inovar. Quando o Fruet decidiu ir para outro partido, deixamos claro que o processo começaria do zero. Cada pré-candidato do PV vai buscar sua viabilidade, e daqui a nove meses vamos sentar para conversar.
JE — O partido não teme sair sozinho?
Rasca — O PV sempre correu sozinho. As conversas sobre alianças vão ocorrer lá na frente. A candidatura própria cria uma perspectiva maior para os candidatos a vereador.
JE — Na sua opinião, até que ponto o prefeito Luciano Ducci tem responsabilidade na crise que envolve a Câmara de Vereadores, presidida por João Cláudio Derosso?
Rasca — Não consigo dissociar o Derosso do Ducci, o Ducci do Derosso. São o mesmo grupo e o mesmo problema: a falta de alternância de poder. São quatorze anos na presidência da Câmara. Isso criou nesse grupo uma acomodação, uma cumplicidade. Há uma responsabilidade direta por fazer parte, ser representante desse grupo que há 22 anos é força majoritária.
http://www.bemparana.com.br/index.php?n=193146&t=curitiba-nao-e-mais-a-capital-ecologica-diz-rasca
Curitiba não é mais a "Capital ecológica", diz Rasca
Para pré-candidato do PV, administração perdeu capacidade de antecipar-se aos problemas
Com a experiência de quem foi Secretário de Estado do Meio Ambiente entre 2006 e 2010, e presidente do Instituto Ambiental do Paraná entre 2003 e 2006, o deputado estadual e pré-candidato do Partido Verde à prefeitura de Curitiba, Rasca Rodrigues, aponta que Curitiba há tempos deixou de merecer o título de “capital ecológica”. E não por culpa de seus cidadãos, que ainda exibem um alto grau de consciência ecológica, mas pela incapacidade do grupo que há décadas comanda a cidade em enfrentar os desafios que a gestão do meio ambiente apresenta. Prova maior disso, afirma, é a falta de solução para um problema tão básico como a destinação dos resíduos sólidos produzidos pelos curitibanos. “Curitiba é a capital mais atrasada no tratamento do lixo do País”, diz ele, que acompanhou de perto o processo que resultou no fechamento do aterro da Caximba.
Para Rodrigues, a falta de alternância no poder fez com que o grupo do atual prefeito Luciano Ducci (PSB) perdesse a capacidade de antecipar-se aos problemas provocados pelo crescimento da cidade. Os sintomas do esgotamento desse modelo, afirma, estão cada vez mais evidentes em situações como o trânsito cada vez mais congestionado, a queda de qualidade do transporte público, na demora no atendimento especializado em saúde e no crescimento dos índices de criminalidade.
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Estado, o deputado do PV fala sobre os desafios a serem enfrentados por Curitiba, e defende a candidatura própria do partido à prefeitura como forma de apresentação de uma alternativa de cidade sustentável.
Jornal do Estado — O senhor disse recentemente que a administração municipal de Curitiba está “cansada”. Porque?
Rasca Rodrigues — Isso está claro na perda de espaço na vanguarda da política pública. Pesquisa recente apontou Curitiba como a sexta capital em ações ambientais. Dentro do que o PV prega em suas diretrizes há a preocupação de que nossa cidade tenha um retrocesso, perca o protagonismo das políticas públicas ambientais do País. Com exceção de programas como o de erradicação de espécies exóticas e adoção de calçadas impermeáveis, não vemos isso mais. Os parques estão poluídos. Os rios não melhoraram. O Barigui - que é um símbolo da cidade - está com uma profundidade em que os pássaros não precisam mais voar, atravessam a pé.
JE — O título de “capital ecológica” então não expressa mais a realidade?
Rasca — A prática não condiz com o discurso. O curitibano ainda tem uma consciência ambiental forte. Mas a administração municipal perdeu a capacidade de apontar caminhos.
JE — Fala-se muito no esgotamento de um modelo de planejamento urbano? Concorda?
Rasca — Concordo. Não somos mais protagonistas. Nossas canaletas têm que deixar de ser pista de teste da Volvo. Precisamos ampliar os modais. Há uma insistência em colocar esse modelo como o melhor do Brasil e do mundo. E não é. Precisamos ter alternativas para tirar os carros das ruas. Em Porto Alegre tem um ônibus com ar-condicionado, jornal. Custa um pouco mais, mas você vai e volta do trabalho com conforto. Hoje, em muitos pontos de Curitiba, as pessoas não conseguem sequer entrar nos ônibus porque eles estão superlotados. E aí vem a redução do número de usuários do transporte coletivo e o aumento de carros nas ruas. Por causa do desconforto e do risco de não assiduidade.
JE — Acha que houve uma acomodação do grupo que comanda a cidade há décadas?
Rasca — Eles perseguem um modelo ultrapassado. O melhor transporte coletivo é o que tem multiplicidade, com metrô, transporte sobre trilho, transporte elétrico. Nossos pontos de ônibus são os únicos do mundo que não têm banco para sentar. Perguntei isso para o (Cássio) Taniguchi e ele disse que era para mostrar que o transporte é eficiente e não dá tempo para sentar. Ou seja, é mais importante o marketing do que o conforto das pessoas. O planejamento hoje está submetido muito mais ao interesse de grandes grupos econômicos do que ao interesse público e ao futuro da cidade.
“Sistema feito só pensando em arrecadar”
Jornal do Estado — O transporte coletivo de Curitiba, visto anteriormente como modelo, vem perdendo usuários. Ao mesmo tempo, a cidade hoje tem a maior proporção de veículos por habitante das capitais brasileiras. O que aconteceu?
Rasca Rodrigues — Quanto menos ruas, menos carros. Quanto mais pista de rolamento, mais carros. Copenhagen começou a adotar o calçadão, que nós copiamos, em 1962. Hojem tem 340 quilômetros de ciclovias. Em Curitiba, o que estamos fazendo hoje é o contrário. Privilegiando o transporte individual em detrimento do transporte público. Houve um retrocesso. Quando se fechou a rua XV os comerciantes também se revoltaram. Depois viram que lucraram mais. O gestor público tem que ter coragem de olhar à frente, e enfrentar essas situações. O que vemos hoje é que as políticas públicas são feitas para atender ao calendário eleitoral, não ao interesse da cidade.
JE — Como vê as polêmicas envolvendo as multas de trânsito?
Rasca — Nossa cidade é refém dessa receita orçamentária. O sistema é feito pura e simplesmente para a arrecadar. Não vemos campanhas de educação no trânsito, não vemos blitzes educativas, policiais abordando no sentido de educar. Por isso estamos vendo uma piora na cultura do trânsito. Temos que morar em uma cidade que todos os dias seja um pouco melhor que no dia anterior. Caso contrário vai chegar um momento em que haverá uma paralisia geral.
JE — A atual gestão cortou verbas previstas para ciclovias.
Rasca — Dentro do conceito de cidade sustentável queremos mostrar que caminhar é a atividade mais importante da cidade. Com essa diretriz de olhar para a cidade segundo a escala humana. Tem que pensar de acordo com o tamanho das pernas. Isso em transporte, mas também em geração de empregos, indústria. Daí a proposta de criação de um distrito industrial metropolitanos. Curitiba não tem uma política de atração de indústria porque não tem mais espaço físico. Então a ideia é aproveitar o espaço que tem para serviços, tecnologia da Informação. Que obtenha um retorno. Grande parte dos empregos vai para lá (cidades da RMC). Um distrito industrial com a participação de cada cidade seja de acordo com o tamanho de seu investimento, com arrecadação compartilhada.
“Ficamos reféns de um modelo privado”
Jornal do Estado — Um dos problemas de que se arrasta há tempos sem solução é o da destinação do lixo. Como o senhor vê a situação?
Rasca Rodrigues — Essa questão foi mal conduzida técnica e politicamente. Curitiba recebeu por mais de uma década o lixo de 12 cidades sem cobrar um tostão. em alguns casos até fazendo o recolhimento. Nunca se colocou que se um dia precisasse de uma área para destinar esse lixo, algum desses municípios o recebesse. Aí Araucária proibiu, São José dos Pinhais proibiu, Quatro Barras proibiu. Em nenhum momento se priorizou o consórcio metropolitano. Vivemos um faz de conta. Ficamos reféns de uma área de uma empresa privada. Não pode, pois o lixo é uma questão de saúde pública. O pior é ficar refém de um modelo privado que não atende minimamente. Curitiba é a capital mais atrasada no tratamento do lixo no País.
JE —Qual seria o caminho?
Rasca — Priorizar o consórcio metropolitano. Não se pode ter um modelo onde quanto mais lixo você coloca no aterro, mais você vai arrecadar. Porque a empresa vai trabalhar a redução de resíduos nas casas se ela lucra quanto mais lixo for produzido? Barcelona, por exemplo, tem prazo até 2015 para eliminar os caminhões de coleta.
JE — Porque a atual administração não percebeu isso?
Rasca — Esse negócio é muito influente. Influencia muito na decisão do gestor. É um negócio de centenas de milhões.
"Não há como dissociar Ducci de Derosso"
Jornal do Estado - O PV convidou o ex-deputado Gustavo Fruet para se filiar ao partido, mas ele acabou no PDT. O PV então anunciou candidatura própria à prefeitura. Isso significa que uma aliança está descartada?
Rasca — Não está descartada aliança com nenhum partido que concorde com a posição do PV em relação à situação política atual. Todo partido que estiver alinhado ao (Luciano) Ducci está descartado, porque a nossa proposta é de inovar. Quando o Fruet decidiu ir para outro partido, deixamos claro que o processo começaria do zero. Cada pré-candidato do PV vai buscar sua viabilidade, e daqui a nove meses vamos sentar para conversar.
JE — O partido não teme sair sozinho?
Rasca — O PV sempre correu sozinho. As conversas sobre alianças vão ocorrer lá na frente. A candidatura própria cria uma perspectiva maior para os candidatos a vereador.
JE — Na sua opinião, até que ponto o prefeito Luciano Ducci tem responsabilidade na crise que envolve a Câmara de Vereadores, presidida por João Cláudio Derosso?
Rasca — Não consigo dissociar o Derosso do Ducci, o Ducci do Derosso. São o mesmo grupo e o mesmo problema: a falta de alternância de poder. São quatorze anos na presidência da Câmara. Isso criou nesse grupo uma acomodação, uma cumplicidade. Há uma responsabilidade direta por fazer parte, ser representante desse grupo que há 22 anos é força majoritária.
Link original em http://www.bemparana.com.br/index.php?n=193146&t=curitiba-nao-e-mais-a-capital-ecologica-diz-rasca
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asca Rodrigues
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